quarta-feira, 3 de maio de 2017

Entrevista

Sou complicada quando o assunto é entrevistar alguém, por isso tive dificuldades para encontrar uma pessoa. Na verdade acho que compliquei um pouco, afinal se não houvesse complicação por minha parte, não seria eu não é verdade?! Para minha sorte, meu namorado me ajudou e perguntou a mãe de um colega nosso se eu poderia entrevistá-la, e graças ao bom pai, ela disse sim.
Maria Cícera dos Santos Rocha Gomes, 61 anos, domiciliada em Maceió, formou-se em Recursos Humanos e História. Ao iniciar a entrevista, perguntei como foi o seu processo de aprendizagem na escola e quem a incentivou a ler. Ela me respondeu que foi rápido, pois foi alfabetizada pela mãe e que aos 4 anos já lia tudo, por isso não teve dificuldades quando foi para a escola. Dona Maria, teve dois incentivos, um foi à mãe, que apesar de ser uma pessoa muito humilde e de pouca leitura, fazia questão de que os filhos aprendessem a ler. E seu maior incentivo foi o pai ser analfabeto.

“Foi eu olhar para o meu pai e as minhas lágrimas descerem ao ver que para ele assinar teria que colocar o polegar, teria que deixar as digitais e isso eu coloquei na cabeça 'eu não vou ser assim'.”

Desde muito criança, tudo que batesse em suas mãos ela lia. Mas os livros que a despertaram para a leitura foram os de Zíbia Gasparetto e O Evangelho Segundo Allan Kardec. Esses livros mudaram sua perspectiva e lhe trouxeram coisas novas e positivas. Hoje, dona Maria lê com muita frequência, e quando lê mais de uma vez faz doação pelo fato da carência de livros no nosso país ser muito grande. Então a questionei sobre o porquê de poucas pessoas comprarem livros, ela, imediatamente, disse que é porque o livro no nosso país é muito caro, e isso não incentiva ninguém a comprá-los. Quando temos alguém que nos ajuda, somos incentivados pelo fato de alguém comprar para nós, mas para isso tem que ter uma renda que contribua. Comprar livro hoje é um absurdo, a nossa educação é muito cara, e por isso existe tanta gente analfabeta no nosso país.
Quando a questionei sobre a importância da leitura na sua vida pessoal e na vida das pessoas, ela respondeu que não só na vida dela como na vida de todos nós a leitura é importantíssima. A leitura é importante porque nós faz crescer, e abre nossa visão. Sem a leitura nós somos cegos (verdadeiros cegos). Para dona Maria, a leitura foi e é tudo, o que ela conseguiu, e tudo o que passou para chegar onde está hoje foi tudo através da leitura.

“Fiz agora a cirurgia de catarata e terça agora próxima farei outra. Mas fiz justamente porque o meu medo é de um dia não poder ler, um dia não enxergar, e isso tiraria minha razão de viver, porque hoje eu vivo.”

                Continuei a entrevista perguntando se ela passou o gosto pela leitura para seu filho, sua resposta foi que sim, que com 4 ou 5 anos ele foi alfabetizado por ela mesma. Com isso, perguntei se ela já pensou em escrever um livro, ela me disse que era seu maior sonho, que se antes de morrer não escrevesse um livro morreria insatisfeita.
Indaguei-a sobre o papel da família na formação do leitor, ela me falou que o incentivo é fundamental, tanto para a criança como para o adulto que ainda é analfabeto e está começando a ser alfabetizado agora. Porque o incentivo é o pontapé inicial para a vida profissional dele quando criança pra chegar à vida adulta, e para o adulto analfabeto que está se alfabetizando é uma abertura de visão, porque até então ou até antes de aprender a ler ele era uma pessoa cega.
Curiosa, perguntei qual livro ela me indicaria e o porquê, ela sorriu e me respondeu que a bíblia, porque é um livro atual, é um livro antigo, é um livro de todo tempo. Que na bíblia encontramos fatos com aconteceram há 200 anos a.c e fatos que estão acontecendo hoje e que ainda irão acontecer. O que dona Maria recomenda hoje para qualquer pessoa, independente de religião, e até mesmo para um ateu, é ler a bíblia, ler e analisar. Porque todos nós temos uma visão e uma interpretação diferente.
Finalizei a entrevista perguntando se ela acha que é possível despertar o interesse pela leitura em pessoas mais velhas, tardiamente alfabetizadas, e que ação recomendaria nesse sentido. Ela falou que hoje nós temos muitas pessoas analfabetas e funcionais. No nosso país o que os políticos querem são pessoas analfabetas, então o adulto quando aprende e começa a ler, abre-se o mundo para ele. Ela diz vai depender dele, exclusivamente dele. Que se ele tiver vontade não ficará só no B A BA. Mas que a família que estiver ao redor dessa pessoa tem sim que dá o incentivo. Ela acredita que se a pessoa se esforçar com a ajuda da família, com ajuda da escola poderá até chegar a se formar, a ter uma graduação.

“Todo ser humano, nós seres humanos temos um potencial muito grande que chama-se consciência, então quando nós temos a consciência do que queremos e corremos atrás do que queremos, nós conseguimos. O adulto ele pode sim chegar aonde ele quiser, desde que tenha vida, desde que esteja consciente, só depende dele. Lógico, meio familiar ajuda.”

Analisando minha narrativa, concluo que a leitura em geral é um importante instrumento de transformação da realidade. Garantir a todos o acesso à leitura deve ser uma política de Estado, mas cabe a nós dedicarmos um tempo do nosso dia a um bom livro, incentivar nossos amigos e familiares a se apegarem à leitura. O hábito da leitura deve ser estimulado ainda na infância para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e, acima de tudo, prazeroso.


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